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A Guerra Cultural aos Animes e Mangás – Parte 4

A Guerra Cultural aos Animes e Mangás – Parte 4

©Anime United

Canais de comunicação estão cada vez mais complicados para o público, principalmente na área do entretenimento, onde cada vez menos há intercâmbio de ideias do público entre si e para as grandes produtoras, veja o que o YouTube foi obrigado a fazer quando os deslikes estavam interferindo negativamente nos vídeos das grandes empresas em campanhas fajutas de publicidade, que iam sempre contra o consumidor em alguma área, seja ela moral ou mesmo em relação ao produto/serviço que ofereciam.

Isto fez começar uma verdadeira guerra entre as marcas e o consumidor nunca antes vista na história, um dos muitos traços da guerra cultural, assunto que já pude abordar por várias vezes aqui na Anime United.

Estamos vivendo a era da informação, onde nunca se viu tamanho acesso das pessoas com o mundo e suas posses, em tão pouco espaço de tempo e virtualmente de qualquer lugar do planeta com acesso à Internet, o que acabou por dar voz e vez a todo tipo de cidadão, incluindo este que vos fala, para exclamar ao mundo sua visão de mundo e trocar experiências que antes se davam somente por viagens longas, caras e desgastantes ao ser humano.

Fairy Tail
©Fairy Tail

Sim, há de se reconhecer que ervas daninhas crescem em todo o lugar, e nas comunidades envolvidas com o entretenimento não é diferente, em específico a dita cuja “comunidade otaku”. Há muitos anos venho combatendo de dentro certas pessoas e situações que simplesmente transformaram uma discussão saudável sobre personagens, enredo, trilha sonora, numa verdadeira batalha campal com paus e pedras sobre coisas totalmente desprezíveis.

Quem nunca se irritou com os “ships” que surgiam exatamente como mato? Não importava quantas vezes capinássemos, surgiam logo em seguida da mesma forma. Ou mesmo o “gênio” que simplesmente odiava um personagem a tal ponto de se tornar um verdadeiro indecente em qualquer discussão? Ou outras irrelevâncias que simplesmente nos tiravam do sério?

Infelizmente, decidi por sair de muitos grupos de discussão que nos conectavam entorno de um mesmo objetivo, que começaram de uma forma e acabaram sendo o extremo oposto do que era o objetivo, por não ver mais o brilho de outrora, e simplesmente adicionarem massa à úlcera que quase me matou em 2023.

Girls Band Cry
©Girls Band Cry

Lembro com carinho de quando participava de um grupo de Star Wars, quando um membro do grupo mostrou um diagrama completo da armadura de Darth Vader, mostrando todos os equipamentos e funcionalidades da armadura, com referências de cada um dos filmes devidamente catalogados. Pode parecer uma besteira, mas conhecer com mais detalhes daquilo que você tanto gosta, transforma sua imaginação de maneira sublime, o que compõe grande parte do que é se entreter.

Foi assim que caras como George Lucas fizeram sucesso, já que Star Wars é sua criação de maior sucesso, tendo sido criado com base em tantas outras obras, como os Jedi que foram inspirados pelos samurais, basta ver até mesmo o capacete de Darth Vader e verá a similaridade com as armaduras dos samurais. Além das armaduras, toda a viagem ao espaço inspiradas por Flash Gordon, dentre outras inspirações que fundamentaram uma das marcas mais conhecidas do mundo.

Discutir uma obra é essencial para que o público saiba o real valor desta obra para si e para a cultura como um todo, e sem o espaço, veja o oposto acontecer diante de seus olhos. E além disso, quanto mais pessoas conheceram o material de uma obra, maior será o mercado para este público, e o meio simplesmente continuará a existir, como se diz, não existe time de futebol sem torcida.

Star Wars: Visions
©Star Wars: Visions

E ainda tem outro efeito negativo que a negligência de moderadores e administradores de grupos no Facebook, WhatsApp, Telegram e outros, acabou causando. Há certas obras que simplesmente ficaram marcadas negativamente por conta de fãs irracionais que tornaram não somente as discussões inviáveis, mas esta imagem ficou marcada junto a obra, o que afastou pessoas de acompanharem-na.

Tudo isto que relatei anteriormente acabou culminando numa das mais vexatórias ações da Crunchyroll, sendo a ‘desculpa perfeita’ para que encerrassem as sessões de comentários nos episódios dos animes de sua plataforma.

O anime alvo de verdadeiros idiotas foi Tasogare Out Focus, um yaoi lançado na Temporada de Verão 2024, com comentários preconceituosos sobre uma obra comumente lançada no Japão há vários anos, já que diferente do Ocidente militante, animes e mangás yaoi e yuri tem seu nicho estabelecido há pelo menos três décadas, e personagens homossexuais não são novidade nos animes em geral, logo, quem abriu os portões do inferno para tais comentários?

Tasogare Out Focus
©Tasogare Out Focus

E eis a ‘desculpa perfeita’ para censura, já que há preconceituosos em nossos comentários, o que fazer? Proibir todos de falarem de uma vez por todas! Não é “genial”? Todo tipo de censura é imbecil e potencialmente criminosa em países realmente livres, e caso alguém passe dos limites estabelecidos, que se cumpram as leis/normas/regimentos incorporados.

E a frase usada na divulgação nessa atualização de sua plataforma denota uma hipocrisia curiosa: “Na Crunchyroll, priorizamos a criação de um ambiente comunitário seguro e respeitoso. Para manter esse padrão, estamos removendo todo o conteúdo gerado pelo usuário existente, incluindo comentários, em todas as nossas plataformas e experiências.

Por que hipocrisia? Ora, se você prioriza um ambiente seguro e respeitoso, então, por que não cortar as ervas do gramado? Se realmente o objetivo for ter um ambiente onde o respeito predomina, censura para todos é algo que ninguém normalmente faria. Ou ela estaria com medo de perder o dinheiro destes assinantes? Tem um motivo pelo qual rejeito o ESG, ele mostra que o dinheiro importa mais do que por meio dele é anunciado.

One Piece
©One Piece

E se a tese de hipocrisia não te alcançou, o que dizer então do mais óbvio, que é moderar sua plataforma, pois a moderação é realmente algo fundamental para quando se monta uma comunidade onde um bando de estranhos se juntam, e é exatamente o problema que anunciei sobre as fandoms alguns parágrafos atrás.

Hoje, diversas plataformas de comentários têm meios de evitar comentários como palavrões, palavras chulas e ofensas e de maneira totalmente automática, não precisando sequer de um mero cidadão para administrar a situação. E quero lembrar a vós todos que a Crunchyroll é uma empresa pertencente à Sony, o argumento ‘falta de recursos’ simplesmente não cabe aqui.

Posso concluir que foi uma ‘desculpa perfeita’ exatamente por conta destes fatores, financeiramente é completamente viável programar para que certos tipos de palavras sejam vetadas completamente, ou permitidas com algum meio de bloqueio sobre estas palavras, com asteriscos e etc. E se fosse uma plataforma que realmente se preocupasse com bem-estar dos seus membros, não se importaria de perder um pouco de receita para isso, eu sei que eu não permitiria pessoas intolerantes em algum meio que possuo ou no qual sou inserido.

Crunchyroll
©Crunchyroll

Mas a atitude mor que vejo aqui é a inviabilidade que pessoas como eu e você teremos de comentar sobre os episódios, e mesmo se necessário for, sobre erros da plataforma que precisam de uma abordagem pela plataforma, como legendas defeituosas ou mesmo com uma sintaxe e gramática de dar nojo, ou algum problema com o player do episódio e que esteja atrapalhando o espectador.

Era um recurso único dentre os streamings pagos, e que mostrava um carinho para a comunidade que realmente se importa por animes, e que deseja trocar ideias entre si. Fora que é bom ver o que estão falando sobre as obras, para que se tenha uma boa noção do impacto que ela tem para a audiência, e que se possa confrontar o que está sendo dito pelo o que está sendo mostrado, para que a sua opinião não seja a mera influência de alguém.

E a ação em específica deixou um aspecto ruim para a plataforma, pois se é conhecido que as legendas em todos os países que a Crunchyroll atua possuem erros crassos de gramática, ou até mesmo a troca anacrônica do sentido das palavras usadas nos diálogos. E também é conhecido que críticas aos animes eram lançadas na aba resenha da página do anime, ou seja, fica parecendo que o ato para “criação de um ambiente comunitário seguro e respeitoso”, foi a desculpa perfeita para se vetar esta crítica.

Crunchyroll
©Crunchyroll

É um ato ruim e com consequências prejudiciais para todos os envolvidos. Primeiro que o público perde a opção de comentar naquilo que está exibido, e por mais que você que esteja lendo este artigo nunca utilizou, e por isso não se importe, saiba que mesmo que você tenha um carro e não utilize o ônibus, quando o ônibus estiver indisponível para quem use, saiba que o trânsito que você utiliza para seu veículo será um verdadeiro inferno, afetando você de um jeito ou de outro.

Hoje é um, e amanhã quando outras plataformas de outros negócios começarem a fechar seus comentários, como o Mercado Livre por exemplo? O consumidor não poderá falar que tal comerciante possa estar aplicando golpes, ou mesmo falando da qualidade do serviço prestado?

Isso seria desastroso para a atividade econômica, pois se uma empresa não possuir o feedback de seu produto/serviço da sua base consumidora, haverá uma fratura na estrutura consumidor/mercado, onde o consumidor se sentirá traído por tal marca, e onde a empresa não saberia o que seu consumidor realmente deseja e necessita. Críticas são o pivô da resiliência plena, ou do isolamento total de quem as esteja recebendo, sem elas, a pessoa não saberá aprender com os erros e cairá num abismo, e com elas, se cresce aprendendo e cria-se um ciclo virtuoso.

Makeine: Too Many Losing Heroines!
©Makeine: Too Many Losing Heroines!

Concluo dizendo que nós, os que gostamos verdadeiramente de animes e mangás, providenciemos o quanto antes uma verdadeira reforma dentro de nossas comunidades, onde educamos todo um grupo a se comportar e andar na linha, ou vejamos as consequências da omissão batendo em nossa porta.

Veja o quão manchado ficou a reputação do canal Cronosfera, quando num comentário infeliz de seu criador, jugou como criminoso as atitudes de Naofumi, e de todos os que assistiam ao The Rising of the Shield Hero, ou Tate no Yuusha para os que só gostam de nomes em japonês. Uma opinião ruim é uma coisa, mas tal anacronismo denotou um caráter tendencioso e de mau-caratismo por parte do autor dessa opinião.

Ou evitemos ao máximo as poluições político-sociais em nossas comunidades, ou comentários como este serão mais recorrentes e prejudiciais do que se possa imaginar. Hoje vemos uma censura descarada por uma plataforma que se mostra contra os fãs, e que precisa ser abordada da forma como é, pois, amanhã não haverá meios para a existência de nossas comunidades. Basta ver outro exemplo crasso do anacronismo, de pessoas taxando animes ecchi como sexistas e outros “istas” estúpidos aos que assistem este tipo de anime, logo, esta imagem cola e será perigosa a todos.

The Rising of The Shield Hero
©The Rising of The Shield Hero

Censura é algo que não pertence a liberdade, e deve ser combatida de forma certa e racional por nós. Não estou culpando um ao outro, mas mostrando o ciclo maligno que as ervas daninhas criaram, onde um acabou prejudicando ao outro. Que venhamos a ter comunidades úteis, que voltem a ter debates e discussões maduras e que nos mantenham saudáveis, ao invés do culto irracional que se transformaram os grupos pela Internet, com conversas inúteis e que afastam pessoas da boa convivência.

Que existam atividades para enriquecer nosso meio, pois só trarão benefícios, pois mostrará ao mercado com quem eles estão lidando, e melhores produtos a preços realistas e mais atrativos se tornem realidade naquele local. Atitudes como esta, se não corrigidas em pouco tempo, só levarão estes serviços para fora de nosso mercado, ou pelo menos, cometerão ações nem um pouco ortodoxas conosco.

Ao invés de bradar que dublagem não presta, que yaois/yuris são lixo, ou que qualquer outro gênero tenha uma conotação que não lhe pertença, comecem a enxergar o desastre que estão trazendo ao nosso meio, pois hoje é uma censura de uma plataforma, amanhã, dê adeus aos mangás sendo vendidos em nosso país, e se acha que estou exagerando, a Nintendo saiu do Brasil por desculpas semelhantes. E principalmente, que decisões como esta possam ser abordadas realmente por nós, e que eu não seja o lobo solitário que fale desses assuntos, pois, ou existe uma comunidade de fato, que fale da situação como ela é, uma censura causada por um conglomerado bilionário, ou decisões assim simplesmente se repetirão em outros lugares nos quais o nosso meio existe.

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