O sucesso por trás de Frieren – Parte 2
Leia também: O Sucesso por Trás de Frieren – Parte 1
E para além de um mundo vivo e plenamente bem utilizado, Frieren usa de um enredo realmente único no cenário de animações, bem como o de obras do gênero de fantasia. Frieren e a Jornada Para o Além tem este nome por um motivo, vemos o mundo na perspectiva de um ser que vive bem mais do que qualquer criatura de seu mundo, à busca da compreensão daqueles que a circundam.
Muitos são os animes que usam a famosa e bem colocada formula da Jornada do Herói, onde o personagem principal se desenvolve para confrontar o grande mal ou a grande figura maligna de seu mundo, mas poucos são os que vão além disto. O que acontece depois do final? A aventura contra o Rei Demônio chegou ao fim, a longa jornada rumo a este confronto valeu a pena, e agora? Frieren sendo uma elfa, vê a vida passar lentamente, e não percebeu o seu impacto na Terra, tão pouco compreendeu quem seus companheiros realmente eram.
Começando pelo fim de tudo foi uma surpresa da obra, e que sem dúvida, dá um tom completamente diferente de qualquer outro anime que já acompanhei. Sim, o grande mal passou, mas deixou rastros por várias localidades em que vemos durante os episódios.
Como mostrei na matéria anterior, é incrível ver o quanto que a obra usa bem do mundo em que ela existe, e mais incrível é ver o quanto que isto impacta nos personagens. Vemos alelos entre o grupo de heróis que colocou o mundo num período de paz, e o grupo que a Frieren criou em sua segunda jornada rumo à Aureole.
Eu pensava que o novo grupo fosse uma recriação do primeiro e mais famoso, (tão famoso que seu herói, Himmel, se tornou um destaque em todo o continente, mas que acabou por não ter um equivalente no atual), mas sim que o grupo atual foi gerando em Frieren um sentimento de compreensão que tanto buscava, sobre seus antigos companheiros, com destaque no grande herói Himmel.
Fern, apesar de ser uma maga como Frieren, é humana e com um histórico de vida completamente distinto de sua mestra, Stark é um humano guerreiro, bem diferente dos guerreiros conhecidos entre os anões, como seu mestre, Eisen, e Sein é um clérigo defeituoso como Heiter, mas multiplicado por 10, e que não tem o mesmo ímpeto de Heiter. E vale pontuar uma peculiaridade da estória, ao fim da jornada dos heróis da paz, Frieren segue sua jornada na descoberta de novas magias, voltando 50 anos depois e tendo de velar seu companheiro, Himmel, o que faz com que a elfa deseje descobrir melhor a natureza humana, iniciando assim sua nova jornada.
Ela não é do tipo que se apega em alguém, ou que sente a necessidade de gerar relacionamentos, destacando isto em uma fala que denota a falta de noção dos elfos em nutrir sentimentos de empatia e amor, e seus companheiros notaram isto. Heiter antes de morrer, teve uma breve convivência com Frieren numa cabana na floresta, e junto a eles, a pequena Fern, que foi adotada pelo clérigo.
Ele conseguiu convencer a elfa a traduzir um grimório que pudesse conter uma magia de imortalidade, e tentou convencê-la de levar a pequena Fern, mas Frieren a viu como um empecilho em sua jornada, porém, o tempo que ela usou para traduzir o grimório, também conseguiu treinar a pequena, e em 6 anos, Fern havia alcançando uma excelência no controle de mana. E quando ele estava em seu fim, Heiter conseguiu demonstrar para Frieren, que Fern era adequada para acompanha-lá em sua jornada, o que surpreendeu a experiente maga.
Eisen repetiu a mesma coisa, afirmando que estava muito velho para grandes aventuras, indicando um jovem humano que havia treinado, assim, Stark era o indicado a não simplesmente suceder seu mestre, mas também a ajudar a elfa na compreensão de seus companheiros, o que é um belo toque no desenvolvimento da compreensão de Frieren neste mundo.
Não somente os novos aventureiros são diferentes do grupo de heróis, mas sua existência e concepção são o começo da jornada de Frieren ao além, onde pelas suas memórias durante o percurso à Aureole, ela consegue se lembrar dos gostos e peculiaridades de seus antigos companheiros. Não há pressão sobre os mais novos pelo legado dos mais velhos, mas sim a resiliência aos mais novos de quem eles devem realmente se espelhar.
Uma peculiaridade desta longa jornada de uma década, é que Fern se preocupa imensamente no tempo gasto por Frieren, onde ela percebe que a elfa não percebe o problema de ficar meses ou anos parados num local e sem muito desenvolvimento de situações que os atrapalham em sua jornada, e ela externa isso à Stark por diversas vezes, e é algo recíproco.
Mas eles vão percebendo o impacto no mundo de Frieren e seu grupo de heróis, ao ver estátuas do grupo ou de Himmel (que era bastante exibido com sua imagem) espalhadas por vários locais em que o grupo passou. Mas tem outro detalhe que ajuda a elfa na compreensão de seus antigos companheiros.
Havia uma estátua de Himmel numa aldeia que precisava ser limpa, para que os aldeões futuros não se esquecessem do herói que havia salvo esta aldeia. Frieren então relembra de como a ideia de estátuas nasceu, e Himmel havia dito que era para Frieren no futuro, sabendo que ela vive muito mais do que qualquer um, sempre se lembrasse deles. Descobertas assim se repetem ao longo dos episódios, e compreendemos melhor junto da elfa, sobre o seu propósito e impacto neste mundo.
Outro detalhe que torna a obra única, é o tempo de sua execução. Frieren é uma elfa que vive muito mais do que qualquer criatura, apesar de que entre os elfos, há quem seja mais velho que ela, como a maga Serie, mestra de Flamme, que é mestra de Frieren.
E isto é contemporizado de maneira genial, pois é dito por Frieren ao final da jornada dos heróis, que 10 anos não ocuparam nem uma tenra fração de sua vida, e como percebemos isto? Cada episódio com 20 minutos, representa um grande período de tempo para os humanos, mas nada para a elfa.
Os vários meses de nevasca nas Terras do Norte que impediram o grupo de avançar, passam em um mero episódio, e quando você percebe, 5 anos se passaram desde o começo da nova aventura de Frieren. Fern já cresceu bastante e se tornou uma dama, Stark ficou mais forte, e tudo passa numa fração de tempo, como seria na ficção com a maga élfica.
O andamento dos episódios revela a verdadeira natureza do tempo da personagem e desenvolvem este enredo com muito esmero, de forma que nada é desaproveitado durante todos os episódios, o que torna a experiência de acompanhar a obra em uma única, não é tedioso, há vida no que é mostrado.
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