Como Ser um Redator – Anime United
Algum tempo atrás, quando eu fiz uma análise sobre as premiações do Anime Awards, no começo de 2024, eu prometi em fazer um texto sobre minha experiência nos animes, mangás e afins, para comemorar meu centésimo texto aqui na Anime United. E eis que aqui estou, com quase três anos sendo redator, tendo feito entrevistas das mais variadas, para tentar agregar conteúdo a nossa comunidade.
Sempre quis ter um espaço para trocar ideias sobre aspectos culturais dos mais diversos, como músico, considerei até um dever, em discutir o que rodeia esta área tão importante de nossa sociedade. E em 2022, pude entrar na Anime United, e trazer a discussão de assuntos que não tinham o destaque que mereciam, analisar animes que não possuíam análise alguma, e discutir assuntos chave que movimentaram esta área cultural, como a série de textos sobre a Guerra Cultural.
E como forma de agradecer a esta marca, queria mostrar um pouco mais do meu background, e como pude contribuir com matérias sobre o que mais gostamos. Para que daqui para frente, outros não somente se inspirem em nós da Anime United, mas que hajam da mesma forma, e agreguem à discussão.
E começando do começo, desde muito novo eu tive contato com a cultura japonesa, já que aqui em Goiânia, há uma comunidade muito bem conhecida e integrada. Já na escola, em 2002, estudei com uma filha de japoneses durante um ano inteiro, e foi onde conheci o mangá, e em japonês.
Não somente eu me vi neste novo mundo, mas também lembro das conversas que tinha com ela envolvendo com as cenas e diálogos, enquanto que outros colegas também se interessavam pelo assunto, o que adicionava ao grupo.
E daí para frente, não parei de discutir animações, livros, músicas, em plena sala de aula, e apesar da repreensão de alguns que odiavam qualquer tipo de interação, nunca deixei de querer opinar, ver quais eram as outras opiniões, e finalmente, chegar num denominador comum. E se você já ouviu algum Unitedcast, sabe o quanto que gosto de falar, já que tudo isto que citei, acabou contribuindo para o meu desenvolvimento como pessoa, numa área que muitos têm uma certa dificuldade, a comunicação.
O primeiro detalhe que você tem de ficar atento, caso queira de fato seguir no ramo de opinião e análises, é a disponibilidade de discutir assuntos dos mais variados, sem nenhum tipo de bloqueio.
O que tem me horrorizado no meio jornalístico, é ver a quantidade de assuntos para se discutir abertamente, e que são vetados por não serem “populares”, ou mesmo de não estarem de acordo com as bases da plataforma, principalmente em ideais.
Já pude trazer várias vezes aqui em textos, da importância de se discutir e analisar, inclusive aquilo que não se gosta, pois, não há assunto proibido para análises. E se tem algo que me incomoda desde criança, é não poder discutir algo, por birra de outrem, ou por um visível desinteresse.
E na comunidade otaku, faltam mais análises de animes, para que estes animes sejam mais divulgados, sendo assim, mantendo este hobby em nosso mercado, contribuindo em um ciclo virtuoso para nós.
Por isso, trouxe análises de animes como Sentouin, Hakenshimasu!, Yurei Deco, Bucchigire, e outros. Me perguntaram várias vezes, por que falo de animes que poucas pessoas falam, e aí está meu nicho de atuação.
Eu pego o exemplo do que está acontecendo no YouTube gringo, onde uma penca de animes ganham análises bem detalhadas e com boas visualizações, enquanto que os mesmos animes aqui, raramente ganham uma nota rasa num site qualquer. A primeira dica que dou é, DISCUTA! Fale dos seus personagens favoritos e menos favoritos, discorra sobre os episódios, crie grupos para trocar ideias com outros.
Com os episódios de censura aos comentários na plataforma da Crunchyroll, o que se pode tirar de análise desta situação, que aliás, já fiz texto aqui no site, é que discutir está ficando cada vez pior, e com menos discussão, não espere que nosso mercado interno seja forte no tópico. Por isso, cada vez menos animes tem mais penetração entre o público em geral, como foi com Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco e outros tantos no passado, encontravam espaço entre fãs dos mais variados.
Por isso que menos mangás são vendidos aqui, e menos animes são dublados do que em países como os EUA. Faltam mais discussões, que por sua vez geram engajamentos, que gera um grupo mais saudável e unido, coisa que atualmente, a comunidade otaku no Brasil não é. A mera discussão de assuntos não tão conhecidos, ou mesmo, abordar o elefante na sala, quebra este paradigma ruim em nossas comunidades, que estão cada vez mais ácidas e de difícil comunicação.
Em parte, só pude chegar aqui, por que uma garota aos cinco anos de idade, quis compartilhar comigo de sua cultura, e eu me interessei por isso. Sinto que algumas conversas não estão no nível que deveriam estar, por estarem bastante nichadas e infladas com pessoalidades, o que radicaliza qualquer discussão, que por sua vez, afasta pessoas mais moderadas de estarem nesta conversa e tudo relacionado dela.
E para discutir, você não precisa ter formações em letras, ou mesmo em jornalismo, basta trazer tópicos à tona, e desenvolver uma ideia entorno que sustente a isto. Por exemplo, fui o único na Internet (por enquanto) a falar mais abertamente sobre a Guerra Cultural aos animes e mangás, que inclusive, foram os textos que fiz mais comentados e curtidos por vocês, para começarmos a ver certas dinâmicas não tão óbvias sobre a indústria de animes.
Entender que a censura ao ecchi, não é mera frescura, ou mesmo, a taxação de sexualização simplesmente é um ataque de reputação, ligando a Guerra Cultural que já existe há milênios, com a cultura gerada pelos japoneses, e sua devida importância na discussão do tópico.
E quando analiso estas situações, quando discuti sobre o anacronismo na arte, é importante denotar algo, NÃO SEJA UM MILITANTE, esta é a minha segunda dica. Militantes tendem a serem irracionais e totalmente cegos de sua ideologia, seja ela qual for, e com isso, acabam sendo incoerentes e anacrônicos ao extremo. Veja o exemplo das pessoas que pregam contra as cenas de ecchi, mas que ao mesmo tempo, apoiam Only Fans da vida, e outras formas de prostituição.
Não significa que você não possa ter ideais, como eu tenho, mas não seja um torcedor ferrenho que ignora qualquer lógica, e saiba reconhecer os fatos como eles são, para não ser igual a certos youtubers que não souberam separar o real do fictício, e acham que espectadores de Tate no Yuusha são apoiadores de grandes absurdos. Ou mesmo, o maluco que gosta de um personagem ou anime, e o defende com unhas e dentes, como se a vida dele dependesse disso, e ignora os defeitos, ou por burrice, ou canalhice.
Algumas análises infelizmente estão totalmente corrompidas por conta disso, por uma falha grosseira de caráter, ou uma abordagem estupida neste processo. Constantemente vejo pessoas defendendo uma série, falando maravilhas, só por que gostou, e falando mal de algo, por que não gostou. Saiba separar sua afeição por algo, da qualidade real daquela obra, sabendo de suas limitações, e reconhecendo seus pontos fortes, mesmo que ela não tenha te alcançado como fã.
Esta é a terceira dica que dou, saiba que o seu gosto por algo foi definido por uma série de fatores variados, o que entra no famoso imponderável. Os seus gostos pessoais não podem corromper sua capacidade de analisar algo de maneira positiva, só por que você gostou, e de forma negativa, por que não gostou. Análises são formas de propagar aquele conteúdo para vários públicos, e ser a forma de convencer a comprar, assistir, consumir, a qualquer coisa, ou seja, mostrando uma capacidade de influência que cada um de nós temos.
Tenha censo crítico para tudo e todos, assim saberá reconhecer os defeitos e qualidades de qualquer coisa e qualquer um. Algo que sempre fiz foi ler a vários artigos dos mais variados assuntos, de música a gastronomia, esportes, religião e etc., e ver como que as pessoas estão estruturando estes assuntos e dissecando a cada tópico.
Por exemplo, as análises que fiz de quaisquer animes que demonstrei, não são ABSOLUTAS, ou seja, há o devido espaço para o contraditório sobre cada uma delas. Eu tenho somente um par de olhos e um cérebro, o que limita minha visão e percepção em apenas um espectro de vista, e por isso, se usam várias câmeras ao entorno de um desporto, para que os replays mostrem o máximo de ângulos possíveis, para que não restem dúvidas sobre nada. Quanto mais espectros de vista, melhor a discussão fica, e o nível da conversa e desta comunidade, fica maior.
A quarta dica que dou, é ampliar o seu leque de conteúdo para um amplo escopo de análises. Como eu disse em meu último texto, falei que vi de tudo quanto é animação, dos clássicos Merrie Melodies, feitos muito antes mesmo de meus pais nascerem, até animes menos conhecidos, como Suzuka, e isso desde 2002. Não estou dizendo para que você tenha os mesmos gostos que os meus, mas para que você entenda, que quanto mais exemplos do que é bom ou ruim você tiver, mais seletivo você se torna quanto ao que consome, e um maior campo de ideias lhe é disponível.
Eu poderia falar de quais animações fizeram eu ter os gostos que tenho, mas assim como minha natureza de músico, acabo sendo bastante eclético com que consumo, seria melhor elencar o que você pode assistir para o que pode falar. Se você, como eu, deseja compreender mais sobre o que vem a ser uma animação, recomendo os cartoons clássicos, que farei textos aqui no site, em breve.
Ou mesmo, compreender tendências, veja os animes clássicos de cada era, de Astro Boy, a passar por Ranma ½, Sailor Moon, até chegar em sucessos recentes, Tomo-chan e Dandadan. Eu mesmo, sempre tive preferências claras por luta e ação, mas pude descobrir a graça dos slice of life, e até mesmo, gostar de certas comédias românticas, mesmo que minha vida romântica mais pareça uma obra escrita por Junji Ito.
Dandadan mesmo, teve o autor falando de que teve de acompanhar a vários shoujo, para compor sua obra. George Lucas, fez Star Wars com uma série de inspirações, dos samurais que o inspirou a criar os Jedi, e as viagens espaciais de Flash Gordon. Se grandes autores fizeram suas obras com referências das mais variadas, você como espectador/leitor, deveria fazer o mesmo.
Não há mal em focar num conteúdo em específico, muito pelo contrário, mas há dinâmicas que o nicho acaba por criar involuntariamente, que afastam pessoas deste nicho. Dandadan tem luta, sobrenatural, alienígenas, mas contém um humor adulto fenomenal, e uma pitada de romance, além de um bom fan-service. Ou seja? As obras estão cada vez mais diversificadas no que apresentam ao seu público.
Faça o mesmo, e tenha um escopo maior de obras, que suas análises sobre elas terão mais corpo e experiência de formação, já dizia Sérgio Reis, “panela velha é que faz comida boa”.
A quinta e última dica que dou para você saber como analisar melhor o que você ver, e como discutir é, se divirta! Amo fazer estes textos, já que sempre gostei de conversar e ler, o que melhorou e muito minha vida, e se sou o “sem vergonha” que sou hoje, quando ousei trazendo uma youtuber, uma autora de livros americana, uma cosplayer, uma atriz/dubladora, e uma equipe de mangás brasileira, foi por conta disso.
O ser humano foi feito para ser sociável, gerar relacionamentos racionais e práticos, e precisamos mais do que nunca, de nos entreter por isso. A comunidade otaku tem sido muito segregacionista a relacionamentos, qualquer coisa vira uma briga digna de cinema, o que sempre traz algo ruim para a comunidade, e não há forma melhor de mudar isto, do que conversar.
Trago estes textos, não como o bastião da verdade, mesmo que ela seja absoluta, ela não pertence a mim, mas minhas opiniões devem pertencer a verdade. Mas além disso, quero trazer ideias, chegar a um denominador comum, e ao fazer isso, pessoas compram a discussão e se unem ao debate. Nestes tempos estranhos que a censura tem adentrado em nossa comunidade, simplesmente fale.
Foi falando, que cheguei na Anime United, quando nossa kami-sama, Ana Paula, me aprovou. E por conta dos textos, fui capaz de criar uma revista sobre uma categoria do automobilismo goiano, e por ela, assessorar a pilotos, e de onde tiro meu sustento. Foi um processo longo e desafiante, mas incrivelmente divertido de fazer, o que me satisfaz imensamente, principalmente quando vocês comentam nos textos e os compartilham.
E nisso, volto ao começo do texto, quando uma menina japonesa, me apresentou o mangá, e a partir dali, comecei a conversar sobre algo em comum, e de tabela, comecei a gostar da cultura japonesa (das japonesas também). E o que sempre me divertiu foi isso, trocar ideias com as pessoas sobre o que nos convergia, e é o que sigo para fazer meus textos.
Tento estar com a verdade, não provoco, não milito, e cá estou. Seja você também parte disto, e não precisa estar em um site como o nosso, em seus grupos na Internet, seja o que traga a discussão e floresça neste deserto, você fará mais à comunidade otaku do que qualquer outra ação de grandes players do mercado.
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